Sabemos
que a realidade das escolas poderá ser mudada se, sobretudo, as metas
propostas estiverem apoiadas na confiança, na ação e no empenho dos
professores
Por Francisca Romana Giacometti Paris ,
www.administradores.com.br
No fim de 2010, o Ministério da Educação apresentou um projeto que
estabelece quais são os objetivos da educação para esta década
(2011-2020). O texto traz vinte metas, que pretendem, ao longo do
período, alterar a realidade das escolas no sentido de qualificar o
atendimento, principalmente no ensino básico. Todas as metas poderão ser
atingidas desde que haja políticas públicas consistentes, continuidade
dessas políticas e investimento na formação e valorização do quadro de
professores.
O objetivo de assegurar a todas as crianças e jovens o ensino básico e
permitir que eles concluam seu processo de escolarização básica pode
continuar sacrificando a qualidade em função da quantidade.
Todavia, sabemos que a realidade das escolas poderá ser mudada se,
sobretudo, as metas propostas estiverem apoiadas na confiança, na ação e
no empenho dos professores. Isso significa que, se os professores não
acreditarem na força e na seriedade das políticas educacionais e não as
efetivarem no contexto das escolas, o Plano Nacional de Educação (PNE)
será apenas mais um plano bem intencionado, porém ineficaz. Deve existir
um projeto social e político que aponte, por meio de ações concretas, o
desejo de se transformarem significativamente as metodologias e os
conceitos que hoje determinam os fazeres escolares.
Ninguém ignora que é a intervenção pedagógica adequada dos educadores
que faz quase toda a diferença na escola. Todos defendem a ideia de que
a atividade docente está cada vez mais complexa e exigente; no entanto,
também é consensual a ideia de que a carreira docente com um estatuto
social decadente, formação fragilizada e remuneração baixa não atrai à
profissão os estudantes mais qualificados nem anima os melhores
profissionais a se manterem nas escolas públicas.
Em um tempo em que nós, a sociedade como um todo e as autoridades
educacionais buscamos uma escola que atenda mais e melhor à população
que dela faz uso, é imprescindível que medidas palpáveis sejam
estabelecidas a curto e médio prazo, a fim de tornarmos a carreira
docente um pouco mais atraente.
É preciso que os jovens sejam motivados a serem professores e
encontrem incentivo e sentido no magistério. Uma profissão que não
consegue atrair os "bons" com certeza será ocupada por aqueles que, do
ponto de vista profissional, não tiveram opções melhores. Assim sendo,
estaremos encaminhando pessoas desmotivadas à carreira docente, sem
empenho e, sobretudo, que não acreditam que podem. Por isso mesmo, elas
provavelmente não farão a diferença, uma vez que não "escolheram", mas
foram social e economicamente "escolhidas" para serem professores.
Valorizar o magistério é essencial para que os professores possam
realizar suas tarefas com dignidade. É evidente que apenas oferecer um
salário maior não irá comprometer nem qualificar o corpo docente, visto
que possibilidades culturais e de lazer são também fundamentais; é
imprescindível que haja políticas de ampliação das remunerações. Isso,
aliado a políticas de avaliação externa de docentes, discentes e
gestores, que indiquem intervenções técnicas de nossos gestores
públicos, a fim de dar saltos na qualidade da escola pública.
Para inverter o "desprestígio" da carreira de professor, é imperativo
que se efetivem medidas claras de formação continuada dos docentes e,
ao mesmo tempo, se definam com clareza novas condições para o exercício
da profissão. O PNE 2011-2020 aparece em hora propícia e deseja o
desenho de um novo projeto social para a escola pública. Todavia, o
primeiro e mais importante passo para tal empreitada é devolver a
decência à docência.
Pensando de um modo mais amplo, quais são os caminhos para melhorar a
situação da educação brasileira? Além de qualificar continuamente o
professor, há mais três, que se complementam: continuar a melhoria da
distribuição de renda, investir na formação pré-escolar, para que a
criança chegue mais bem preparada à escola, e escolher materiais
didáticos melhores, que dêem chance ao aluno de ter acesso a conteúdos
de qualidade.
É claro que muitos professores desejam desenvolver seu próprio método
de ensino e currículo, mas, no caso principalmente dos docentes com
baixa qualificação profissional, esta é a verdadeira receita para o
fracasso. Isso porque a construção de um fazer pedagógico deve apoiar-se
em um material didático cuja função seja instrumentalizar e orientar o
educador para a reflexão e a tomada de decisões direcionadas ao
aprendizado. E isso é o que o sistema de ensino faz.
Materiais didáticos estruturados (ou "sistemas de ensino") são
cadernos de uso individual que organizam o currículo da escola e os
conteúdos das disciplinas, aula a aula. Podem ainda orientar os
professores e acompanhar o desempenho dos alunos, o que otimiza o
aproveitamento do tempo em sala de aula, favorece o estudo do aluno em
casa e incrementa o domínio do conteúdo pelo professor. Isso porque um
sistema estruturado de ensino configura-se como um conjunto de soluções
que vão além do material didático. Ele inclui, por exemplo, tecnologias
educacionais, portal educativo, formação continuada de professores,
avaliação e acompanhamento da aprendizagem do aluno, entre outras, as
quais, juntas, resultarão em um melhor desempenho escolar.
A grande diversidade de sistemas de ensino em uso traz a inevitável
preocupação com a qualidade, necessariamente vinculada a um adequado
projeto pedagógico e editorial, cuidadosa produção e revisão do
conteúdo. Não cabem improviso, reutilização de materiais segregados ou
adaptações de conteúdos planejados para outras finalidades. As soluções
que atendem às necessidades dos professores e alunos devem ser
trabalhadas de forma precisa, desde o planejamento editorial até a
produção gráfica.
Em educação, não há uma solução milagrosa para tudo. É preciso
combinar diferentes alternativas e esforços. Sem a cooperação do poder
público – gerando políticas eficazes –, da iniciativa privada –
produzindo conteúdos de qualidade para alunos de todas as classes
sociais – e das associações de classe – auxiliando na formação
continuada –, permaneceremos chorando sobre o leite derramado. Ou
melhor, sobre os tristes índices da nossa educação.
(*) Francisca Romana Giacometti Paris é pedagoga, mestra em educação,
diretora pedagógica do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br),
da Editora Saraiva, e ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto (SP)
Fonte: www.administradores.com.br
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