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sábado, 23 de fevereiro de 2019

JARI CELULOSE ESTÁ A PROCURA DE SÓCIO

A Jari Celulose, controlada pelo empresário Sérgio Amoroso, está em negociações com investidores para vender uma parte ou totalidade de seu negócio. Instalada na região amazônica, entre os Estados do Amapá e do Pará, a fábrica da Jari acumula dívidas de R$ 1,2 bilhão. A entrada de um sócio é vital para manter as operações da companhia, especializada em celulose solúvel (usada para a produção de tecido).
Fábrica de celulose da Jari
Idealizado pelo americano Daniel Keith Ludwig, o projeto Jari começou a sair do papel no fim dos anos 1960. O bilionário mandou construir uma fábrica de celulose no Japão, transportada por meio de barcaças até as margens do rio Jari. Instalada em uma área de mais de 1 milhão de hectares, a fábrica inclui uma ferrovia, um terminal portuário e florestas de eucaliptos. Por causa da localização, no entanto, a viabilidade econômica do projeto é questionada. O empresário deixou o País no início dos anos 1980, após vender a Jari com prejuízo.

O projeto mudou de mãos algumas vezes antes de ser adquirida por Sérgio Amoroso, que era dono do grupo Orsa, no início dos anos 2000. O empresário comprou a empresa por um valor simbólico e assumiu as dívidas, que à época já eram de US$ 400 milhões.
Agora, com o aumento do preço da celulose no mercado internacional e o movimento de consolidação do setor - que ganhou força após a fusão entre Suzano e Fibria -, os acionistas da Jari Celulose começaram a se articular para buscar um sócio para o negócio e evitar uma recuperação judicial, afirmaram fontes próximas às negociações.
No fim de 2018, a empresa contratou os bancos BTG Pactual e o Bradesco BBI para procurar investidores. Os donos - Amoroso tem 75% e o empresário Jorge Henriques, os outros 25% - estão abertos à entrada de um sócio ou à venda de todo o projeto industrial.
Pessoas próximas às negociações afirmaram que grupos asiáticos estariam interessados, entre eles a RGE (Royal Golden Eagle), que já tem uma unidade de celulose solúvel no Brasil. Procurada, a RGE informou que sempre analisa oportunidades, mas não comenta rumores de mercado. Em janeiro, os bancos começaram a receber propostas não vinculantes. As propostas firmes deverão ser analisadas nos próximos 90 dias.
A expectativa dos sócios, segundo pessoas par do assunto, é levantar entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,5 bilhão com a venda da Jari.
O presidente da companhia, Patrick Nogueira, confirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que os controladores estão em conversas para a entrada de um investidor, mas não deu detalhes do negócio. 



Segundo ele, a planta da Jari produz 250 mil toneladas por ano de celulose solúvel e fatura cerca de R$ 700 milhões. As dívidas estão nas mãos do BNDES, Banco do Brasil e bancos privados, entre eles o Bradesco. O atual projeto comporta um aumento de 20% da produção e há possibilidade de criação de uma nova linha de celulose para outras 750 mil toneladas.
Uma das maiores dificuldades para a entrada de um sócio é a localização em plena floresta amazônica. A venda do pacote completo do projeto Jari é considerada complexa. Instalada no meio da floresta, a área agrícola e florestal da companhia não pode ser repassada a investidores estrangeiros, uma vez que o País impõe restrições para aquisição de terras por grupos internacionais.
Fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo afirmaram que há na mesa discussões para a venda da área industrial e de ativos florestais, sem incluir as terras. Os atuais controladores ficariam como proprietários da área florestal e poderiam diluir suas participações. Do total de 1 milhão de hectares sob a gestão do grupo, somente 120 mil hectares são ocupadas por florestas de eucalipto que viram matéria-prima para o projeto industrial.
Em 2016, após novos investimentos, a Jari converteu a unidade de celulose tradicional para solúvel, que é destinado para a produção de tecido (viscose) e toda a produção voltada 100% para exportação, sobretudo mercado chinês. No entanto, os acionistas acumularam mais dívidas desde então e precisam de capital para que a empresa não tenha de recorrer à recuperação judicial.
Em 2012, Amoroso, que já era dono do grupo Orsa, vendeu a Jari Celulose e Papel, de embalagens, para o grupo International Paper. O valor do negócio foi de R$ 1,27 bilhão. A companhia, porém, tinha seis fábricas, não estando concentrada na região amazônica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: 

domingo, 10 de fevereiro de 2019

DO JAPÃO PARA AMAZÔNIA - FÁBRICA DA JARI

A historicidade das sociedades humanas tem so evidenciada pelos constantes domínios impostos à natureza, a Amazônia Brasileira é um exemplar desses acontecimentos. O avanço das tecnologias, a busca pelo capital e a transformação da civilização humana numa civilização moderna tecnológica são aspectos que evidenciam a Amazônia, como cerne de investimentos provenientes do mundo todo, principalmente de países desenvolvidos.
Um desses investimentos trata-se do Projeto Jari, um gigantesco empreendimento voltado para a produção de celulose, idealizado pelo magnata americano Daniel Keith Ludwig. O projeto ficou em evidência no mundo todo, por fazer parte de uma atitude audaciosa do bilionário americano Ludwig em meados dos anos 60.
O processo de ocupação da área correspondente ao Projeto Jari remonta desde o ano de 1882, ano em que José Júlio de Andrade, um migrante oriundo do estado do Ceará, passa a habitar no município de Almerim, no estado do Pará e com o passar dos anos torna-se um grande extrativista da região, além de exercer essas atividades em Mazagão (atual município do estado do Amapá). A ocupação rarefeita desse espaço foi um dos fatores que possibilitaram José Júlio a tomar posse de uma extensão de aproximadamente um milhão e seiscentos mil hectares (16.000 Km²) tendo como ponto de referência, escoamento e mobilidade fluvial, o Rio Jari.
As atividades extrativistas desenvolvidas por José Júlio alcançaram significativas proporções, chegando este a montar uma empresa baseada na comercialização de produtos como a castanha do Pará e a borracha extraída das seringueiras. Em 1948, prestes a falecer vendeu o território a um grupo formado por comerciantes portugueses e um brasileiro, que deram continuidade as ações lá realizadas, sendo responsáveis pela administração da empresa gerada por estes a Jari Indústria e Comércio S/A.
E a partir de 1967 a área pertencente à Jari Indústria e Comércio S/A foi vendida com a permissão do Governo Militar Brasileiro por apenas $ 3 milhões para Daniel Ludwig. As terras localizam-se na fronteira (o Rio Jari) entres os estados do Pará e Amapá, tendo proximidade com a capital Belém do Pará e com acesso ao Oceano Atlântico, o espaço adquirido totaliza áreas com dimensões similares à Bélgica e ao estado do Sergipe no Brasil . A causa primordial da compra da área segundo Ludwig era, porque este acreditava que a “alfabetização dos miseráveis do terceiro mundo levaria a um aumento brutal na demanda de papel” o que significava um lucro sem igual. Esse fator seria apenas um dos motivos pelos quais o empresário adquiriu a área, os outros concernem à abertura e facilidade de compra da área impostas a Daniel Keith pelo Governo militar brasileiro. Isso significava uma troca mútua entre ambos. Para o Governo da Ditadura, a instalação da fábrica alavancaria a economia brasileira, já que Daniel Keith não necessitaria de apoio estatal, enquanto que para Ludwig a compra de hectares com média de dois dólares por hectare, seria um vasto território a ser explorado e fortaleceria seu capital.
Levando em consideração a potencialidade futura do consumo de celulose que, segundo seus informantes econômicos atingiria seu ápice em 1985. O magnata apressou se em pensar qual espécie de árvore utilizaria para o plantio em larga escala, já que a vegetação nativa da área não era suficiente para suprir a possível demanda de celulose. Teve então apoio técnico de biólogos e agrônomos especializados em análises de culturas tropicais e os enviou para África, Ásia e para América do Sul. Não exibindo relevante demora, um botânico holandês membro da equipe de Ludwig encontrou na Nigéria uma espécie oriunda da Ásia que possuía características determinantes para cultivo, a Gmelina arborea. O “ouro verde” de Ludwig era caracterizado por ter resistência e durabilidade, além crescer numa escala rápida, cerca de 30 centímetros mensalmente, o que permitia cortes em períodos de seis anos. Estudos relacionados à adaptação da espécie a diversos climas e solos em países foram realizados, Ludwig tinha grande convicção em seus pesquisadores e dessa forma autorizou o plantio da gmelina, mesmo sabendo que alguns ambientalistas opinavam de maneira divergente de seus pesquisadores quanto à adaptação das gmelinas no ecossistema amazônico.
A escolha já tinha sido feita, agora se fazia necessário preparar o território pra o posterior plantio das árvores. O planejamento da área para a monocultura girava em torno de 160.000 hectares, a retirada da floresta nativa foi feita por 18 tratores, uma parcela da vegetação foi aproveitada para construção de casas comunitárias na cidade de Monte Dourado (tema que será abordado posteriormente no texto), porém o restante que somava grande parte das árvores foi empilhado e queimado. Após o desmatamento foi verificado que a camada de húmus do solo tinha sido retirada também, sendo assim o solo reservado para a cultivo estava pobre, impedindo o plantio das gmelinas. A alternativa foi derrubar mais áreas manualmente, com a utilização de serras elétricas, o que elevava os custos do projeto.
As gmelinas finalmente foram plantadas, mas outros entraves foram perceptíveis: a difícil adaptação da espécie ao solo arenoso da região do Jari, visto que a gmelina crescia em passo acelerado em solos graníticos ou calcários, técnicos especializados construíram diques numa altura de 10 centímetros para controlar a água proveniente do ecossistema alagado do Jari e assim iniciar a plantação. Outro obstáculo foi constatado, foi percebido que o solo era pobre em sulfúrio, o problema foi resolvido com o emprego de sulfato de amoníaco no mesmo,com esta medida a porcentagem de aproveitamento da colheita teria chances de 250 % de aumento.
Os resultados numéricospositivos propiciaram a abertura de mais áreas da plantação, porém dessa vez o visionário Ludwig, tinha a pretensão de investir na criação de gado, só que este não imaginava que sua posse escondia uma imensa reserva de caulim (um tipo de argila nobre utilizada na fabricação remédios, impressão em papéis, cerâmica, entre outros), uma das maioresdo planeta. O caulim encontrado serviria futuramente para o branqueamento do papel, o que necessitou da construção da construção de uma fábrica para trabalhar com o beneficiamento da matéria-prima.
O tempo de colheita das gmelinas se aproximava então Daniel Keith comprou uma gigantesca fábrica de beneficiamento de celulose, que foi montada sobre plataformas estabelecidas em estaleiros na cidade de Kure, no Japão. Participavam da montagem das estruturas vinte equipes japonesas, outras europeias e americanas. Após a montagem as plataformas foram transportadas por via fluvial para a região circunscrita das proximidades do Rio Jari. A fábrica era composta por duas plataformas, as dimensões de cada uma eram 240m x 50m, com altura aproximada de um edifício de vinte pavimentos com área correspondente a dois e meio campos de futebol. Em uma estava a fábrica de beneficiamento de celulose, tendo capacidade de produção de 220 toneladas de celulose branqueada por ano. A segunda plataforma abrigava uma usina de força vapor, responsável pelo funcionamento da primeira, esta tinha disposição para gerar 55 megawatts de energia elétrica.
Em 1978 durante 53 dias as duas plataformas navegaram 25.000 km até a cidade de Munguba no Pará, distância equivalente à metade da circunferência do globo terrestre. Sua chegada exigiu dos operários, jornadas exaustivas de trabalho em função da acomodação das plataformas, tão cansativas que um trabalhador do projeto acabou falecendo.
O projeto naquele momento estava pronto para ser executado, porém uma constatação foi compreendida, as plantações de Gmelina arborea estavam tendo resultado abaixo do esperado por Ludwig. O empresário ordenou que mais uma vez as árvores amazônicas fossem derrubadas, porém desta vez estas seriam misturadas com as gmelinas com a finalidade de chegar ao ápice de aproveitamento máximo da fábrica.
Nesse contexto todo um suporte de infraestrutura que não existia anteriormente no local foi construído como, estradas, ferrovias, portos e até uma cidadeconhecida por Monte Dourado, planejada pelo engenheiro Rodolfo Dourado, oferecendo incentivos relevantes para abrigar os trabalhadores com força de trabalho a baixo custo, estes migrantes do Brasil, que residindo num local mais próximo da fábrica, reduziriam os gastos de Ludwig com mão-de-obra importada. O impacto trazido pelo Projeto Jari assumiu proporções consideráveis que promoveu o surgimentode cidades informais e periféricas como: Beiradão e Beiradinho, que não dispunham eaté hoje não dispõem de infraestrutura básica adequada, pois são caracterizadas por um amontoado de favelas de habitações palafitas.
Com o passar foi visto que as exorbitantes despesas geradas pelo Projeto Jari de Daniel Ludwig eram superiores aos lucros esperados. Soma-se ainda a esse fator preponderante, a intervenção do Governo brasileiro quando a devastação da área e perda da biodiversidade local tornaram-se extremamente perceptíveis. Em 1980 uma expedição de soldados brasileiros aportaram na fábrica do Jari, com o intuito de impedir a derrubada de mais árvores, estas que se encontravam numa região que excedia os limites do Projeto, dessa forma acirrando a desarmonia de pontos de vistas do Estado brasileiro e do empresário norte-americano.
A tal ponto chegou à situação, que em 1981, Daniel Keith Ludwig abandonou oficialmente o Projeto Jari. Exigiu a indenização do então presidente do Brasil João Baptista Figueiredo de US$ 6 milhões de dólares por ano em razão dos serviços sociais e infraestruturais que aplicou no Projeto, se a proposta de Ludwig não fosse atendida este despediria todos os funcionários brasileiros pertencentes à fábrica. O presidente não respondendo absolutamente coisa alguma irritou Daniel Keith, que em 1982 pôs a venda o Projeto Jari para um consórcio de negociantes brasileiros por um terço de seu real preço. Os gastos de Ludwig com o Projeto totalizaram na época um bilhão de dólares.
Por fim os empresários que adquiriram o Projeto Jari acabaram exigindo indenizações do Governo pelos mesmos motivos exigidos por Ludwig. As indenizações foram convergidas no pagamento das dívidas que resultaram do Projeto Jari. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico E Social) admitiu as despesas oriundas da fábrica e da usina e o Banco do Brasil tomou para si outra que somava US$ 180 milhões. Um grupo formado por uma empresa privada chamada CAEMI assumiu 40% das ações do Jari, posteriormente repassou estas para o Grupo Orsa em 1997 que é o atual proprietário, o Projeto Jari assumiu com a mudança administração a denominação de Jaricel (Jarí Celulose, Papel e Embalagens S/A). Os avanços das questões ambientalistas principalmente ligadas ao Protocolo de Kyoto remodelaram as formas de interação da fábrica com o meio ambiente. Segundo informações adquiridas no website do Grupo Orsa, as ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas são norteadoras da política empresarial da Jaricel.
A história da implantação do Projeto Jari relata a fixação de elementos no espaço natural, especificamente as ações empresariais de proporções internacionais, instaladas na Amazônia Brasileira. Suas resultantes concernem principalmente em questões de intervenção paisagística natural e alterações significativas do ponto de vista urbano-social. Foi perceptível a partir do desenvolvimento deste texto que, as ações planejadas pela humanidade nem sempre alcançam suas metas almejadas, esta saga da realidade brasileira confirma a total dependência do homem com a natureza. O grande problema é que esta nem sempre se regenera dos danos oriundos das atitudes humanas, esta problemática é um dos maiores, ou senão o maior desafio para nós enquanto arquitetos, urbanistas e cidadãos de um planeta que clama por ajuda.

REFERÊNCIAS

TEIXEIRA, Carlos Moreira. 1968-2008: do Projeto Jari ao Protocolo de Kyoto.