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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

PÁGINAS DA HISTÓRIA DO JARI: CORDEL SOBRE A REVOLTA DO CEZÁRIO

O CASO JARY
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Os trabalhadores do senador José Júlio rebelados.

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Cezário de Medeiros é o interprete dos desertores.

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História completa
 I
No dia 4 de junho
à tarde, o sol já morria
na capital de Belém
certo boato corria
de que na zona Jary
qualquer novidade havia

II
Mil versões foram correndo
forjadas por boateiros,
algumas phantasiadas
com factos verdadeiros,
dizendo que Arumanduba
se enchia de cangaceiros.

III
Como não fui no local
não posso testemunhar,
mas aqui, em toscos versos, 
mais ou menos vou narrar
o que através dos jornais
eu consegui apurar.

IV
O senador José Júlio, 
capitalista opulento,
tem na zona do Jary
muito povo em movimento
na borracha, na castanha
para ganhar o alimento.

Muitos chefes de família
emigrados do Nordeste,
teem vindo destinados
aquele rincão agreste
e ali ficam trabalhando
expostos a relho e à peste.

VI
Dizem elles que trabalham
mas não recebem dinheiro,
sofrem maus tratos cruéis
em vida de captiveiro,
mas eu não sei se este caso
será ou não verdadeiro.

VII
Um rapaz amazonense
- José Cezário de Medeiros -
Chegando lá procurou
incutir nos seringueiros
que deviam rebelar-se
fazendo se desordeiros.

VIII
E Cezário conseguiu
arrebatar muita gente,
elle que inda era moço
e parece inteligente,
preparou os companheiros
e collocou-se na frente.

IX
Mais de 700 foram
as pessoas reunidas,
que Cezário inflamara
e fe-las bem convencidas
de que pela liberdade
dessem suas própria vidas.

X
Depois de bem combinados
por todos os logarejos
rumaram à Arumanduba
para exporem seus desejos
ao senador José Júlio,
patrão desses sertanejos

Créditos: Cristovão Lins no livro "A Jari e a Amazônia" , publicado em 1997 pela editora Dataforma em convênio com a Prefeitura de Almeirim/Pará. Nos comentários Lins faz algumas correções, como a data do início da revolta, segundo ele foi no dia 5/6/1928 e não no dia 4 como assinala o cordel e  a naturalidade do líder dos revoltosos, José Cezário ser potiguar/norte-rio-grandense e não amazonense. O referido cordel foi feito com base em notícias da imprensa da época e publicado pela editora Guajarina. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

LIVRO DE 1980 DENUNCIAVA A DESNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

Apresentação
A autora e os editores deste livro julgaram de inegáveis oportunidades e importância uma nova publicação do esclarecedor Relatório apresentado com a data de 3/6/68, à CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito], da Câmara Federal, destinada a estudar a venda de terras a estrangeiros, notadamente na Amazônia. Após prolongadas pesquisas, narradas detalhadamente no texto, a CPI, cuja constituição fora requerida pelo deputado Márcio Moreira Alves (MDB [Movimento Democrático Brasileiro] - Guanabara), recebia do Relator, deputado Haroldo Veloso (Arena [Aliança Renovadora nacional] - Pará), extensa exposição conclusiva sobre a candente questão.
Eram estarrecedores e revoltantes os fatos apurados, através de tomadas de depoimentos (inclusive dos Ministros da Justiça e do Interior, dos Presidentes do INDA [Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário] e do IBRA [Instituto Brasileiro de Reforma Agrária] - que atualmente  formam o INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] - e do Superintendente da SUDAM), pedidos de informações a diversos órgãos federais, especialmente os militares e, principalmente, viagem de observação, em que se constataram choques entre nacionais e estrangeiros,  e se realizaram coleta de dados cartoriais, contatos com pessoas e entidades ligadas ao assunto etc. Tais iniciativas, sob a dinâmica orientação do Brigadeiro Veloso, permitiram "formar um quadro que, apesar de incompleto, já indica gravidade do problema e a seriedade com que o mesmo deve ser tratado".
Inicialmente, verificou-se que, em sua maioria, eram norte-americanas as pessoas físicas e jurídicas envolvidas tanto na venda quanto na compra de terras, de extensão, aliás, de milhões de hectares. Municípios já estavam com a sua área quase inteiramente alienada. Tal Relatório estaria fadado ao destino habitual desses documentos - o Arquivo - não fora o inconformismo  de diversos parlamentares e a ação vigilante da Campanha Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento da Amazônia - CNDDA [Comissão Nacional de Defesa pelo Desenvolvimento da Amazônia], que promoveu a sua primeira divulgação. Recorreu a entidade, de pronto, à realização de uma Conferência do Deputado Veloso na então Assembleia da Guanabara, com o inestimável concurso do Deputado Alberto Rajão. Em seguida, reproduziu, em centenas de cópias mimeografadas, a íntegra do Relatório. Finalmente, publicou-o, ainda em 1968, no nº 2 de sua revista, A Amazônia Brasileira em Foco. Ocorreu, sem exagero, verdadeiro impacto na opinião pública. Sucederam-se entrevistas, reportagens, artigos, discursos no parlamento, assembleias e câmaras de todo o País, atos públicos, passeatas etc. A venda de terras a estrangeiros, especialmente na Amazônia, tornou-se, sem dúvida, um preocupante tema do nacionalismo brasileiro. Daí decorreria uma nova legislação sobre o assunto, a qual, embora incompleta  e repetidamente burlada, representou um primeiro entrave à desenfreada e protegida "entrega de nossas terras".
Aqui está novamente, o texto completo do Relatório: ficamos certos de que virá reforçar, com suas afirmativas incontestadas e incontáveis, a luta geral em defesa e pelo desenvolvimento da Amazônia, que representa, aliás, 58% do território pátrio.

Prof. Henrique Miranda

Apresentação do capítulo intitulado Capitais estrangeiros na Amazônia brasileira do livro O Projeto Jari e os capitais estrangeiros na Amazônia da geógrafa, técnica do IBGE  e membro do CNDDA Irene Garrido Filho, publicado pela editora Vozes, em 1980, onde denuncia a desnacionalização da Amazônia brasileira e a cobiça, principalmente dos norte-americanos das riquezas do nosso país.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

CIDADES FANTASMAS (OU NÃO) DO BRASIL

No Brasil, como em outros países também existem cidades fantasmas. Os lugares citados aqui não estão completamente abandonadas, mas o sentido empregado é que essas cidades já tiveram uma população muito grande em relação a que possui na atualidade.
Silêncio e vazio. Lugares e vilarejos com poucos ou nenhum habitantes, construções em ruínas, onde as plantas tomam conta de onde havia trânsito e movimentação de pessoas. Assim, são algumas cidades e vilarejos cujos os moradores, pouco a pouco, foram partindo até não restar mais ninguém. Conhecidas como "cidades fantasmas", cada uma têm histórias e particularidades de quando havia muita vida por lá.
Segue a lista de algumas cidades consideradas fantasmas no Brasil.

Airão Velho/ Amazonas - Situada a 140 km de Manaus, foi a primeira povoação fundada às margens do rio Negro, com o nome de Santo Elias do Jaú, em 1694, tendo sido uma das vilas mais prósperas da região desde a colonização até a Segunda Guerra Mundial por causa do extrativismo do látex. De acordo com uma lenda popular, a cidade ficou despovoada devido ao ataque das terríveis formigas comedoras de gente; segundo outra lenda, as pessoas saíram de lá temendo as assombrações de fantasmas de índios escravizados. Mas ao que parece a verdadeira causa do despovoamento foi mesmo o declínio da atividade extrativista da borracha. Atualmente, o lugar conta com apenas um morador que afirma não deixá-lo temendo o desaparecimento da história da cidade.


Ruínas de casa Airão Velho - Foto: Juan Pratiginestos,, créditos: oeldoradoeaqui

Ruína de casa em Airão Velho 

Foto: Francis Maglia, créditos: oeldoradoeaqui

Créditos: catracalivre



Fordlândia/Pará - Localizada às margens do rio Tapajós, seu nome é uma homenagem ao norte-americano Henri Ford. Ford procurava na época uma grande área para o plantio de seringueiras para a produção de borracha, para viabilizar o projeto criou a cidade que contou com rápida prosperidade e foi a sede do projeto de 1928 a 1934; nesse período chegou a possuir 1.200 moradores. Foi deslocado casas inteiras e galpões dos Estados Unidos para o local. Mas devido a problemas de infertilidade da terra e desconhecimento das características da região, as seringueiras não desenvolveram a acabaram sendo destruídas por pragas; além disso, o empreendimento evidenciou pouca lucratividade e aos poucos foi sendo abandonado. Atualmente, é um distrito do município de Aveiro com poucos habitantes, nem lembrando os seus tempos pretéritos de glória, com casas e galpões completamente abandonados.

Fordlândia de frente para o rio Tapajós - Créditos: chickenorpasta?

Imagens de Fordlândia no auge - Créditos: chickenorpasta?

Interior da fábrica de beneficiamento do látex - Créditos: chickenorpasta? 

Casa da época no padrão americano - Créditos: chicenorpasta?

Resto de maquinário com fábrica ao fundo - Créditos: diáriofb.com

Fábrica e caixa d'água de aço, símbolo da cidade - Créditos: diariofb.com

Interior da fábrica e maquinários - créditos: diariofb.com

Fordlândia, cidade fantasma

Igatu/Bahia - Na Chapada Diamantina com a alcunha de "Machu Picchu brasileiro" devido as suas construções em pedra, teve sua prosperidade por canta da exploração de pedras preciosas e diamantes, sendo que no auge chegou a ter cerca de 10 mil moradores, com comércios, indústrias e até cassino. Na atualidade possui 360 habitantes em meio as muitas ruínas que lembram os tempos áureos.
Ruína de casa em Igatu - ensinarhistoriajoelza.com

Ruínas de casas em pedra/Igatu - Créditos: ensinarhistoirajoelza.com

Créditos: guiamelhoresdestinos.com

Créditos: guiamelhoresdestinos.com

Créditos: google.com

Igatu - Créditos: guiachapadadiamantina.com 

Igatu - Créditos: casaldemochilao.com

Igatu - Créditos: researchgate.net

Igatu - Créditos: lugaresesquecidos.com

Igatu - Créditos: lugaresesquecidos.com

Igatu - Créditos: lugaresesquecidos.com







São João Marcos /Rio de Janeiro - Fundada, em 1739 pelo fazendeiro João Machado Pereira com a construção de uma capela dedicada ao santo, em volta da mesma cresceu um povoado. Seu apogeu ocorreu no século XIX, com o advento da cultura cafeeira, chegando a atingir 14 mil habitantes contando com teatro, clubes, duas escolas e agência dos correios. Foi despovoada e demolida para para a construção da Represa de Ribeirão das Lajes, na década de 1940, outro fator causador do seu despovoamento foi a ocorrência de surtos de malária. Tempos depois, houve a redução do nível da água da represa resultando no reaparecimento das ruínas da antiga cidade. Comenta-se também que houve um erro de planejamento no projeto de engenharia e assim demoliram erroneamente as casas da cidade, aí então elevaram o nível da água temendo uma revolta por parte da população. 








Ararapira/Paraná - Foi fundada pelos portugueses, no século XVIII. Desenvolveu-se a partir do comércio decorrente do tráfego existente na estrada que interligava São Paulo a Curitiba, até a metade do século XIX. Seu declínio se deu em 1952. No século XX, com a mudança do trajeto das estradas entre as duas capitais, além das constantes marés responsáveis pela destruição de várias habitações. Foi transformada em Parque Nacional no fim do século passado e atualmente é considerada Patrimônio Natural da Humanidade.













Ouro Fino/Goiás - Criada como vila, em  1727 destacando-se economicamente durante o ciclo da mineração; posteriormente teve seu nome mudado. Hoje em dia resquícios dos tempos antigos como parte dos muros, da igreja e do cemitério.


Velha Jaguaribara/Ceará - Foi submersa, no final do século passado, devido a construção do açude Castanhão (Açude Público Padre Cicero), um dos importantes reservatórios de água do Brasil; nos períodos de seca,  emergem ruínas do fundo do açude que ainda guarda um monumento em homenagem ao centenário de morte de Tristão Gonçalves de Alencar Araribe, líder da Confederação do Equador (movimento revolucionário que eclodiu em 2 de julho de 1824, em Pernambuco). 











Cococi/Ceará - Distrito de Parambu, chegou a abrigar 2 mil pessoas, fundada por Francisco Alves Feitosa beneficiado pela doação de uma sesmaria que deu origem ao vilarejo. Foi município por um período de 8 anos; já foi cenário de filme. Conhecida como a cidade fantasma do sertão do Ceará teve sua população esvaziada por causa das estiagens e escândalos de corrupção por parte do 3º e último prefeito.

















Biribiri/Minas Gerais - Situada na chapada Diamantina, a 300 km de Belo Horizonte. Seu nome, em tupi-guarani significa "buraco fundo". Fundada em 1876, a partir de criação da indústria têxtil Estamparia S/A pertencente ao bispo Dom João Antônio dos Santos e seus irmãos para servir de abrigo para os trabalhadores da indústria.  A vila chegou a ter 600 empregados com suas respectivas famílias. Em 2013 era habitada por 3 adultos uma criança e o vira-lata Mequetrefe. Atualmente, o lugar serve de suporte para o lazer de turistas devido as suas cachoeiras e belezas naturais. 











Como essas deve existir muitas outras por esse imenso Brasil.