Presidente do TJ-AP burlou decisão de Dilma, de não elevar salários
de magistrados, e propôs, na Assembleia, acréscimo no abono de férias.
Os juízes do Amapá ganharam um aumento salarial indireto, patrocinado
pelo próprio Tribunal de Justiça. Projeto de lei complementar
encaminhado pelo TJ para elevar o valor do adicional de férias dos
juízes foi a forma que os magistrados do Estado encontraram para driblar
a decisão da presidente Dilma Rousseff de barrar o reajuste geral do
Judiciário.
O projeto, assinado pelo presidente do TJ do Amapá, Mário Gurtyev de
Queiroz, e encaminhado à Assembleia Legislativa, argumenta ser
“necessário aumentar o valor das férias dos colegas em razão do arrocho
remuneratório que hoje vive a magistratura”. Na mensagem encaminhada à
Câmara, Queiroz admite que a razão do projeto é a não aprovação do
aumento salarial da magistratura.
Férias à venda. Além disso, argumenta, o adicional de férias pago a
todo trabalhador – o equivalente a um terço do salário – “desestimula os
magistrados a usufruir o gozo de suas férias semestrais”. Os juízes,
afirma o presidente do TJ, vendem parte dos 60 dias de férias a que têm
direito anualmente para aumentar seus rendimentos.
“A maioria dos nossos magistrados deixa de usufruir o benefício a que
fazem jus para transformar parte em pecúnia – o que é deferido de
acordo com a disponibilidade orçamentário-financeira deste Tribunal – e,
desta forma, recompor parte das perdas remuneratórias que experimentam
ao longo desse período”, afirma o presidente do TJ.
A venda de férias pelos magistrados é tema polêmico e que está sub
judice no Supremo Tribunal Federal (STF). Parte dos ministros, incluindo
o atual presidente do STF, Carlos Ayres Britto, entende que a venda de
férias é incompatível com os 60 dias de descanso dos juízes.
“Se você vende as férias é porque não precisa delas”, afirmou Ayres Britto, dias antes de tomar posse na presidência.
O projeto já foi aprovado pela Assembleia e sancionado pelo
governador do Estado, Camilo Capiberibe (PSB). O reajuste do adicional
de férias é retroativo a 1.º de janeiro deste ano. O governo do Estado
havia informado, até a integrantes do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), que o projeto ainda dependia de sanção. A nova lei, no entanto,
já estava em vigor desde o dia 30 de março e seus efeitos retroagem a
janeiro deste ano.
Na quinta-feira, Capiberibe informou a integrantes do Conselho que
não se recordava de ter sancionado o texto. De acordo com conselheiros, o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deverá ser provocado
para contestar a constitucionalidade da lei estadual.
O receio de integrantes do CNJ é o de que o projeto sancionado pelo
governador sirva de precedente para que juízes dos demais Estados
ampliem seus vencimentos.
No Paraná, lei encaminhada pelo Tribunal de Justiça e aprovada pela
Assembleia ampliou de um terço para a metade do salário o adicional de
férias pago aos magistrados. Ayres Britto, que também preside o Conselho
Nacional de Justiça, não fez juízo de valor sobre a lei do Amapá, mas
quer discutir os benefícios. “Estou empenhado em retomar os estudos
acerca da lei que dispõe sobre o estatuto da magistratura, o que porá
fim a essa diversidade de tratamento remuneratório nos ramos do Poder
Judiciário brasileiro”, afirmou.
FELIPE RECONDO / BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo
Fonte: www.correaneto.com.br
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