Essa pergunta só poderá ser respondida
em 2020. O PNE 2011-2020 já começará atrasado. Está em tramitação no
Congresso Nacional desde dezembro de 2010 e deverá ser aprovado no
segundo semestre de 2012. O primeiro PNE (2001-2010), que estabeleceu
295 metas, pode ser considerado um fracasso. Segundo o professor Carlos
Roberto Jamil Cury, um dos principais motivos para que boa parte das
metas não fosse cumprida foi a falta de previsão orçamentária no próprio
PNE para sustentar as ações previstas. O excesso de metas e a ausência
de mecanismos de acompanhamento e avaliação permanente contribuíram para
os poucos avanços da educação brasileira na primeira década do século
21.
O plano atual, ao contrário do primeiro,
tem 20 metas, que cobrem todos os níveis de ensino, desde o ensino
infantil até a pós-graduação, o que certamente facilitará o
acompanhamento e avaliação de sua implementação. As 10 diretrizes
apontam para um avanço na educação brasileira: 1. Erradicação do
analfabetismo; 2. Universilização do atendimento escolar; 3. Superação
das desigualdades educacionais; 4. Melhoria da qualidade de ensino; 5.
Formação para o trabalho; 6. Promoção da sustentabilidade
socioambiental; 7. Promoção humanística, científica e tecnológica do
país; 8. Estabelecimento de meta de aplicação de recursos em educação
como proporção do Produto Interno Bruto (PIB); 9. Valorização dos
profissionais da educação; e 10. Difusão dos princípios da equidade, do
respeito à diversidade e gestão democrática da educação.
Nas discussões da comissão especial da
Câmara, a meta 20, referente ao financiamento, foi a mais polêmica. A
proposta encaminhada pelo Ministério da Educação previa a ampliação
progressiva do investimento público em educação até atingir, no mínimo, o
patamar de 7% do PIB do país. Graças à pressão da sociedade civil,
feita pelo movimento PNE pra valer, capitaneada pela Campanha Nacional
pelo Direito à Educação, o patamar aprovado subiu para 10%. Esse aporte
de recursos, se bem aplicado, será fundamental para uma inflexão da
educação rumo à conquista da qualidade da educação para todos os
brasileiros. O PL nº 8.035/2010 será agora analisado pelo Senado
Federal.
A sociedade espera que não haja
retrocessos e que o PNE seja aprimorado, apontando para um
desenvolvimento social e econômico benéfico a todos os brasileiros. As
discussões no Senado poderão transformar o PNE em um prelúdio de uma
verdadeira revolução na educação brasileira, pregada repetidamente pelo
senador Cristovam Buarque. Um dos princípios dessa revolução será
proporcionar um ensino básico %u2014 infantil, fundamental e médio
%u2014 de qualidade em todas as escolas brasileiras de nosso país
continental.
O principal investimento deverá ser
feito na formação de professores para o ensino básico e a valorização
tão sonhada desses profissionais da educação, sem a qual não podemos
vislumbrar um futuro virtuoso para o Brasil. Todas as escolas do país
deverão ter condições adequadas para o acolhimento de estudantes e
professores, proporcionando um ambiente apropriado para a educação. Os
conteúdos e processos pedagógicos devem ser revistos, adaptando-se à
realidade do século 21. A simetria do ensino, pesquisa e extensão deverá
ser conquistada, valorizando-se de forma semelhante esses três pilares
do ensino superior. Os cursos de pós-graduação deverão preparar recursos
humanos nas várias áreas de conhecimento de acordo com o planejamento
de médio e longo prazo do país.
Temos a rara oportunidade de realizar os
sonhos dos Pioneiros da Educação Nova e de educadores do porte de
Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire. Temos a chance de
recuperar uma dívida histórica de proporcionar uma educação de qualidade
para todos e que certamente será o instrumento mais importante para a
conquista verdadeira da justiça social no Brasil. Oxalá possamos
celebrar em 2020 a conquista das metas do PNE (2011-2020) e o documento
cuja análise está em seu capítulo final, não seja mais um, como muitos,
que serviram para alimentar a nossa desesperança. Oxalá possamos
testemunhar a tão sonhada revolução na educação brasileira que
certamente, como costumava dizer Anísio Teixeira, consolidará a nossa
democracia.
*ISAAC ROITMAN Coordenador do Grupo
de Trabalho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e
professor emérito da Universidade de Brasília (UnB). (CORREIO BRAZILIENSE, 16/07/12)
Fonte: www.cnte.org.br
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domingo, 22 de julho de 2012
Plano Nacional de Educação: ficção ou realidade?
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