Depois de prefeituras e governos estaduais receberem ou
adquirirem cerca de 574 mil laptops por meio do Programa Um Computador
por Aluno (UCA), o Ministério da Educação (MEC) acena com a
possibilidade de inserir os tablets nas salas de aulas das escolas
públicas brasileiras. Especialistas concordam que o sucesso do uso das
tecnologias em educação não depende apenas da plataforma utilizada, mas
sim da forma como a escola irá inserir essas ferramentas no aprendizado e
também dos conteúdos digitais disponíveis.
A diretora da Fundação Pensamento Digital, Marta Voeclker, aponta que a
escola pode "mudar de paradigma" a partir da tecnologia. Ela ressalta
que o uso das máquinas - seja um computador, laptop ou tablet - pode
transformar a lógica do aprendizado. Alunos deixam de ser meros
"recebedores" de conteúdo e podem evoluir para autores. "A tecnologia
nos ajuda a sair de uma educação por instrução e memorização para uma
educação de construção e colaboração. Uma tecnologia que a criança use a
imagem, escreva e formalize ali seu entendimento. Se tenta mudar a
escola há 100 anos e a tecnologia vem ajudar nisso", explica.
Sob esse ponto de vista, Marta defende que o "hardware" não importa
tanto. O essencial é ter à disposição ferramentas que possibilitem um
uso educacional de laptops e tablets para que as máquinas não sejam
meros reprodutores dos conteúdos que já estão nos livros didáticos. "A
escola vai aos poucos se tornando digital, os professores estão fazendo
blogs, a gente se apropria das redes sociais, mas não há algo pensado
para a escola que precisa de uma transição para a época digital",
aponta.
A especialista no uso das tecnologias da educação ressalta, entretanto,
que essa transição da escola analógica para a digital precisar ser feita
aos poucos. Leva tempo e exige uma reflexão da sociedade a respeito do
que se espera da escola. "Quando o educador começa a trabalhar esses
projetos chega um momento que o sistema não reconhece o que ele está
fazendo. Isso está acontecendo em todo o mundo. No Brasil nós temos um
ambiente mais propício à mudança, até do ponto de vista da legislação.
Mas é uma mudança grande porque aí chegam as avaliações que hoje ainda
se baseiam muito na memorização", diz Marta. "O que precisava é de um
pensamento estratégico dentro do governo para pensar esse assunto a
longo prazo", completa.
Para Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, a primeira e
principal estratégia é buscar conteúdos pedagógicos que possam ser
acessados por meio dos equipamentos. "Se você não selecionar conteúdo de
alto padrão, tanto faz se é papel, lousa, ou tablet. E isso a gente não
faz no Brasil. A lógica deveria ser: primeiro você busca o conteúdo e
depois você procura como é a melhor maneira de distribui-lo. Se ele for
bom pode ser até um mimeógrafo", critica.
Em 2012, pela primeira vez, o edital publicado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a compra dos livros didáticos
que são distribuídos às escolas públicas do País inclui os chamados
"objetos educacionais complementares aos livros didáticos". Isso
significa que as editoras poderão apresentar conteúdos em formato
digital que, se aprovados, poderão ser adquiridos pelo governo para uso
na rede pública.
Fonte: noticias.terra.com.br
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