Com a rejeição do substitutivo que destinava todos os
recursos dos royalties do petróleo para a educação, militantes iniciam a
campanha 'Veta Dilma'
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lamentou
a decisão do plenário da Câmara dos Deputados, que rejeitou dia 6/11 o
substitutivo do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que previa a
destinação de 100% dos recursos arrecadados com royalties do petróleo
para a educação. No seu lugar, foi aprovado o Projeto de Lei do Senado
(PL 2.565/11), de autoria do senador Vital do Rego (PMDB-PB). “É um gol
contra a educação brasileira. A tão cantada em verso e prosa prioridade
da educação mostrou ontem que não é verdadeira. Deputados que defendem a
aplicação de 10% do PIB no setor, na hora de indicar os caminhos para
se buscar esses recursos, se recusam a fazê-lo”, disse o presidente da
CNTE, Roberto Franklin de Leão, ressaltando que o petróleo é a riqueza
de todo o povo brasileiro, e não de estados e municípios, que receberam
ontem um "cheque em branco para fazer o que quiserem com recursos
públicos".
Segundo o dirigente, a falta de compromisso dos parlamentares com a
qualidade da educação pública traduz uma luta de classes na qual a elite
continua a ditar as regras. Ele lembrou que todo o processo de
discussão e votação dos royalties foi liderado pela oposição, o "que
revela falta de coordenação política do governo que propôs a destinação
desses recursos para a educação". O PL do Senado, que redistribui os
royalties do petróleo entre estados e municípios produtores e não
produtores, foi aprovado por 286 votos a 124.
Em nota, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime) afirmou que a decisão da Câmara de "não aprovar a destinação de
100% dos royalties do petróleo para a educação pública brasileira terá
um impacto negativo no desenvolvimento desta área social e os
parlamentares perderam uma grande oportunidade de vincular à educação
mais uma fonte de financiamento diante das demandas históricas". Ainda
segundo o documento, é preciso alfabetizar as quase 13 milhões de
pessoas com mais de 15 anos; cumprir a Emenda Constitucional 59, de
2009, que determina a obrigatoriedade do ensino dos 4 aos 17 anos,
segmento no qual há 3,5 milhões de crianças e adolescentes fora da
escola; atender à demanda por creches públicas; cumprir a Lei do Piso
Salarial Nacional para os Profissionais do Magistério Público; valorizar
a carreira dos profissionais da educação e oferecer formação
continuada; e cumprir as demais Metas e as Estratégias previstas no
Plano Nacional de Educação e nos planos estaduais e municipais de
educação.
Para a Undime, o projeto de lei aprovado ontem é, na íntegra, o que
saiu do Senado, sem aporte financeiro para a educação. E, com isso, os
deputados ignoraram que este texto pode se transformar em um problema
futuro por não "fechar" a conta em alguns pontos e não se sustentar, com
equívocos de redação ou matemática. Feito o cálculo, conforme a nota,
os índices previstos para vigorar a partir de 2019 somam 101% no caso
dos contratos de concessão para o petróleo extraído da plataforma
continental (mar), seja da camada pré-sal ou não. “É nítido que a
redação terá de ser refeita para a retirada de 1%. Mas o valor será
retirado de quem?”, questionam os autores do documento.
Roberto Franklin de Leão, que integra o comitê diretivo da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, articulação que reúne mais de 200
grupos e entidades em todo o país, inclusive a Undime, afirmou que já
está sendo organizada a campanha "Veta Dilma". O objetivo é reunir a
sociedade em torno da causa dos royalties do petróleo para financiar a
educação e intensificar as pressões sobre a presidenta Dilma Rousseff
para vetar o texto aprovado. O veto, segundo as entidades, é necessário
porque a meta 20 do Plano Nacional de Educação, que prevê investimento
de 10% do PIB no setor, depende da criação de novas fontes de
financiamento.
Mas, no Congresso, a linha foi de colocar panos quentes sobre o
assunto. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM),
descartou a hipótese de veto presidencial. "A aprovação na Câmara
demonstra claramente que há uma vontade política do povo brasileiro, por
meio de seus representantes nas duas Casas, de fazer uma redistribuição
dos recursos dos royalties", afirmou, ao mesmo tempo em que demonstrou
contrariedade com o fato de ter ficado para trás a proposta de destinar
mais recursos para a educação.
Braga considera, porém, que não está fechada a possibilidade de
revisar a questão e destinar uma fatia maior dos royalties para o setor,
de modo que se garanta o cumprimento do Plano Nacional de Educação.
"Podemos nesta lei [PNE] fazer a vinculação à educação, não na
totalidade, mas num percentual absolutamente expressivo dos novos
recursos dos royalties nas três esferas, estados, municípios e União",
indicou o senador.
Já os governadores de alguns dos principais estados produtores
engrossaram o tom e cobraram o veto presidencial. "Estou tranquilo que a
presidente vai vetar. A presidente não sanciona projeto de lei
inconstitucional. Estou me baseando em declarações públicas da
presidente, na qual ela disse que caso o projeto de lei versasse sobre
contratos assinados de receitas advindas de campos de petróleo já
leiloados seria vetado, porque isso é ferir contratos já assinados",
disse o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que estimou em R$ 4
bilhões a perda orçamentária do estado só em 2013. "Então, é
absolutamente inviável, o estado fecha as portas, não se faz Olimpíadas,
Copa (do Mundo de futebol), não se paga servidores aposentados e
pensionistas."
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, também disse
apostar no veto. "Ela havia dito publicamente que vetaria qualquer
projeto de lei onde houvesse rompimento de contrato. Caso aconteça
alguma dificuldade e o Congresso derrube o veto, estamos nos preparando
para ir ao Supremo para defender nossos direitos", afirmou.
Para Casagrande, a decisão dos deputados foi desequilibrada e rompe o
pacto federativo. Na visão dele, não houve solidariedade federativa nem
da Câmara nem do Senado. "O impacto para o estado do Espírito Santo e
os municípios (do ES) vai ser R$ 11 bilhões entre 2013 e 2020. Estamos
confiantes de que a presidente Dilma possa vetar."
Com informações da Agência Senado e da Reuters.
Fonte: www.redebrasilatual.com.br
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