Com referência na experiência venezuelana, o
Psol chega dividido e em meio a enorme polêmica interna para administrar
sua primeira capital. A gestão em Macapá pode ser definidora do futuro
do partido
Oito anos depois de sua fundação e de se manter fiel como oposição ao
governo federal do PT no Congresso Nacional, o Partido Socialismo e
Liberdade (Psol), fundado por petistas dissidentes, assumirá em janeiro a
primeira prefeitura de capital, Macapá, no Amapá. O partido tentará
mostrar ao País que não é apenas grupo ideológico fadado a marcar
posições de esquerda radical no Legislativo.
O Psol planeja
fazer da cidade a vitrine do programa socialista que defende desde sua
criação, em junho de 2004. Mas enfrenta resistências e dúvidas de alas
dentro do partido.
Para instalar a plataforma que tem como
referência o socialismo venezuelano numa capital que carece de
infraestrutura básica e depende de recursos da União e do Estado, o Psol
encara um debate interno: a quem ceder espaço no governo, já que
partidos tidos como de direita - DEM, PSDB e PTB - e setores do PT
ajudaram a vencer o pleito? E para futuras eleições, com quem formar
alianças? A experiência em Macapá pode ser definidora no perfil do
partido.
O estopim do debate que hoje divide o Psol foi a
costura de apoios e alianças no 2º turno das eleições. À frente de
esquerda Unidade Popular (Psol, PV, PPS, PCB, PTC, PRTB e PMN),
juntaram-se setores do PT, do PCdoB, do PSB e líderes de partidos do
espectro ideológico oposto, como o DEM, o PSDB e o PTB. Os apoios deram
mais votos à chapa do prefeito eleito Clécio Luis (Psol), que enfrentou o
grupo político que estava no poder há pelo menos dez anos com apoio do
senador José Sarney (PMDB-AP), do ex-senador Gilvam Borges (PMDB-AP) e
dos ex-governadores Waldez Góes (PDT) e Pedro Paulo Dias (PP) - cujas
últimas administrações foram marcadas por denúncias escândalos de
corrupção. Eles davam sustentação ao prefeito Roberto Góes (PDT), que
tentava reeleição.
Um dos efeitos da aproximação com tais
partidos que o Psol critica se estende até o momento. Há pressão geral
sobre o prefeito para ver quem terá cargos na gestão. A crise no partido
se tornou pública. Militantes divulgaram nota de repúdio às alianças
costuradas em Macapá pelo senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP),
articulador político dos apoios e da campanha e de quem Clécio é
suplente. Randolfe e Clécio admitem composição só com aliados de
esquerda e pregam critério “ético e técnico”.
Na reunião da
Executiva Nacional, quinta-feira passada, cogitou-se levar Clécio e
Randolfe ao Conselho de Ética. Eles se livraram, mas só por um voto.
“Não podemos transformar a vitória em derrota”, disse o líder da bancada
na Câmara, deputado Chico Alencar (Psol-RJ). “Sem autofagia. Será nossa
saída da adolescência, o primeiro teste de maturidade do Psol. Vai
exigir muita atenção e um esforço do partido como um todo, sem distensão
interna menor”.
Expectativa
A primeira
gestão do Psol gera expectativa dentro do partido e nos moradores de
Macapá. Clécio mantém o acanhado gabinete 37 da Câmara de Macapá
decorado com fotos de Salvador Allende, Simón Bolívar, Tupac Amaru e
Pablo Neruda. Inspirado pelo socialismo do presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, pretende fazer um governo voltado “para os mais pobres”. Mas
sem expectativa de promover uma revolução socialista na Prefeitura. (da Agência Estado)
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