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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Professor (des)conectado


Por Ribamar Pereira*

A vinda do Governador do Amapá a Laranjal do Jari para a entrega dos notebooks aos professores da rede estadual de ensino, através da ação Professor Conectado, deve ter despertado um misto de omissão, apatia e reflexão nos professores, pós-derrotados aqui – da categoria (sindicalizados ou não) diante da luta pró-piso nacional.
A corajosa manifestação contra a política salaria do Governo, por ocasião da inauguração da reforma da Escola Sônia Henriques Barreto, já faz parte do passado, embora ainda fresca na memória do Governador e de seu Secretário de Educação, pois ambos mencionaram o episódio na cerimônia de entrega dos notebooks na Escola Mineko. O esquecimento, talvez, tenho sido da plateia formada por professores que não ousaram se manifestar, se quer com um singelo silêncio – sem aplausos para o evento – os professores participantes da luta pelo piso salarial (suponho) não se sentiram contemplados no discurso do professor que representava a classe no cerimonial. Elogios ao Governador, numa fala aparentemente ensaiada com a equipe de governo, e nenhuma referência – mesmo sutil – aos nossos anseios de classe. Ou não somos uma classe – independente de vínculo sindical - ? O aparte aqui não é uma crítica ao professor, que tem o direito e livre-arbítrio de se posicionar como quiser diante de qualquer situação que lhe diga respeito; mas à omissão coletiva diante do contexto político no qual estamos diretamente envolvidos, mesmo sem querer nos expor ou não fazer parte.
Se nessa cerimônia não houve nenhum protesto, não se pode afirmar também que houve aclamação calorosa ao governador. Parte dos professores, apático ao discurso governista não o aplaudiu. Bem como os que estavam presentes não deixaram de receber mais uma ferramenta de trabalho (patrimônio do Estado) para ser utilizada na escola, visando estimular a TIC – Tecnologia da Informação e da Comunicação -, na atividade docente. Essa tecnologia é bem-vinda, sua utilidade é indiscutível; mas sem um bom planejamento pedagógico pode tomar o mesmo destino de muitos livros didáticos improdutivos por falta de uso. Como o próprio governador disse: “Se der certo, adiante virá o data show e quem sabe a lousa digital”. Tudo indica que se o “se” (improviso) e não uma proposta pedagógica planejada determinará a evolução ou a “falência do Professor Conectado”.
A reflexão mais inquietante sobre a entrega dos computadores está nos dois momentos distintos do evento: primeiro a perfeita organização do cerimonial ornamentada numa orquestra populista; segundo, o samba do crioulo doido na hora da entrega dos notebooks (sufoco). Tratamento de lorde à equipe de governo e de choque ao professor. Camilo disse no momento do cerimonial que estava cumprindo promessa de campanha. Como tal, fez da entrega dos notebooks um autêntico palanque. No discurso, a estratégia de acusar o SINSEPEAP pelo fracasso na negociação salarial era esperada. É a milenar culpa da oposição, tão desgastada quanto o discurso de transparência da situação. “Tempo novo” mostrando a velha mão de ferro aos educadores.
E a nossa estratégia política? “Formadores de opinião”, temos alguma? Estamos sempre sem tempo, conectados ao interesse individual e distraídos em relação à participação coletiva. Enfim, conformados com a democracia representativa e quase desconectados da democracia participativa. Esta que na visão de Paulo Freire depende do “ser político capaz de questionar, criticar, reivindicar, participar, ser militante e engajado...”. E que também encontra eco nas palavras do físico e educador da USP, Luís Carlos Menezes: “a política é importante demais para ser deixada só para os políticos”.

* Professor e poeta

Fonte: Periódico Pororoka

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