Por Ribamar
Pereira*
A vinda
do Governador do Amapá a Laranjal do Jari para a entrega dos
notebooks aos professores da rede estadual de ensino, através da
ação Professor Conectado, deve ter despertado um misto de omissão,
apatia e reflexão nos professores, pós-derrotados aqui – da
categoria (sindicalizados ou não) diante da luta pró-piso nacional.
A
corajosa manifestação contra a política salaria do Governo, por
ocasião da inauguração da reforma da Escola Sônia Henriques
Barreto, já faz parte do passado, embora ainda fresca na memória do
Governador e de seu Secretário de Educação, pois ambos mencionaram
o episódio na cerimônia de entrega dos notebooks na Escola Mineko.
O esquecimento, talvez, tenho sido da plateia formada por professores
que não ousaram se manifestar, se quer com um singelo silêncio –
sem aplausos para o evento – os professores participantes da luta
pelo piso salarial (suponho) não se sentiram contemplados no
discurso do professor que representava a classe no cerimonial.
Elogios ao Governador, numa fala aparentemente ensaiada com a equipe
de governo, e nenhuma referência – mesmo sutil – aos nossos
anseios de classe. Ou não somos uma classe – independente de
vínculo sindical - ? O aparte aqui não é uma crítica ao
professor, que tem o direito e livre-arbítrio de se posicionar como
quiser diante de qualquer situação que lhe diga respeito; mas à
omissão coletiva diante do contexto político no qual estamos
diretamente envolvidos, mesmo sem querer nos expor ou não fazer
parte.
Se nessa
cerimônia não houve nenhum protesto, não se pode afirmar também
que houve aclamação calorosa ao governador. Parte dos professores,
apático ao discurso governista não o aplaudiu. Bem como os que
estavam presentes não deixaram de receber mais uma ferramenta de
trabalho (patrimônio do Estado) para ser utilizada na escola,
visando estimular a TIC – Tecnologia da Informação e da
Comunicação -, na atividade docente. Essa tecnologia é bem-vinda,
sua utilidade é indiscutível; mas sem um bom planejamento
pedagógico pode tomar o mesmo destino de muitos livros didáticos
improdutivos por falta de uso. Como o próprio governador disse: “Se
der certo, adiante virá o data show e quem sabe a lousa digital”.
Tudo indica que se o “se” (improviso) e não uma proposta
pedagógica planejada determinará a evolução ou a “falência do
Professor Conectado”.
A
reflexão mais inquietante sobre a entrega dos computadores está nos
dois momentos distintos do evento: primeiro a perfeita organização
do cerimonial ornamentada numa orquestra populista; segundo, o samba
do crioulo doido na hora da entrega dos notebooks (sufoco).
Tratamento de lorde à equipe de governo e de choque ao professor.
Camilo disse no momento do cerimonial que estava cumprindo promessa
de campanha. Como tal, fez da entrega dos notebooks um autêntico
palanque. No discurso, a estratégia de acusar o SINSEPEAP pelo
fracasso na negociação salarial era esperada. É a milenar culpa da
oposição, tão desgastada quanto o discurso de transparência da
situação. “Tempo novo” mostrando a velha mão de ferro aos
educadores.
E a
nossa estratégia política? “Formadores de opinião”, temos
alguma? Estamos sempre sem tempo, conectados ao interesse individual
e distraídos em relação à participação coletiva. Enfim,
conformados com a democracia representativa e quase desconectados da
democracia participativa. Esta que na visão de Paulo Freire depende
do “ser político capaz de questionar, criticar, reivindicar,
participar, ser militante e engajado...”. E que também encontra
eco nas palavras do físico e educador da USP, Luís Carlos Menezes:
“a política é importante demais para ser deixada só para os
políticos”.
* Professor e poeta
Fonte: Periódico Pororoka
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