Por: José Alberto TostesArquiteto e Urbanista
A pergunta é a seguinte: por que tanta morosidade para resolver problemas estruturais?
Este
título é parte de uma reportagem de um jornal da Guiana Francesa sobre a
inercia da construção da ponte binacional efetivada no ano de 2011. A
reportagem destaca o descaso brasileiro sobre a situação e a
considerável perda para o lado francês com um investimento tão elevado.
Entre tantos desencontros e informações duvidosas sobre a ponte, fica
claro o desleixo com que este investimento e as expectativas frustrantes
geradas para ambos os lados.
Mas, quais as causas para múltiplos entraves em relação a liberação da ponte entre o Amapá e a Guiana Francesa? De acordo com a reportagem do jornal francês guianense, enquanto a França fez o dever de casa, o Brasil não cumpriu em nada o acordo dos investimentos em tempo hábil. Do lado brasileiro, há uma sucessão de equívocos, considerados como incompetência assim destacadas: erros de projetos, falta de recursos para serem alocados, atraso nas obras existentes, indefinição de novos investimentos na estrutura em torno da ponte e a incapacidade em relação a pavimentação da BR 156. Diante da reportagem do jornal francês, chega-se a seguinte reflexão: A quem interessava a construção efetiva desta ponte entre as regiões do Amapá e da Guiana?
Desde
a inauguração oficial da ponte por diversas autoridades, a única coisa
útil sobre o uso, tem sido de cartão postal da cidade de Oiapoque. É
inacreditável como episódios como esse, geram a descrença popular nos
governantes em todas as esferas. Na realidade, a cidade de Oiapoque
convive com todos os tipos de anomalias, concretamente a ponte é apenas
mais um tema, entre tantas questões nocivas ao desenvolvimento do lugar.
O jornal francês guianense tem razão no teor da reportagem, mas é
preciso avaliar com prudência, diversos setores da Guiana Francesa
sempre foram contra a construção da ponte.
Por
inúmeras vezes, estive participando na Guiana Francesa de trabalhos de
cooperação entre os anos de 2000 a 2014, lá se vão 14 anos de muita
história para contar, entre tantos fatos, discutindo e trocando ideias
com brasileiros, guianenses e franceses, cheguei acreditar que a ideia
da ponte era uma farsa, quando vimos a mobilização das autoridades de
ambos lados darem corpo e execução a ideia, o sentimento de brasileiros
da Guiana Francesa era de esperança, mas não para os guianenses, sempre
acreditaram que a construção da ponte era um mal negócio.
A
pergunta que fica é a seguinte: por que tanta morosidade para resolver
problemas estruturais tão básicos? Afinal, o que 150 km de uma BR para
serem pavimentados em um país tão continental como o Brasil? O que
significa a construção de estruturas básicas de apoio no entorno da
ponte? Governo Federal e do estado do Amapá precisam dar uma explicação
não é somente para os amapaenses, mas para toda a sociedade brasileira,
pois a região onde foi construída a ponte binacional é de fronteira,
área de soberania nacional, o que isso? O Brasil e o Amapá são cumplices
em mais uma tragédia brasileira, jogar no “lixo” recursos públicos. Os
franceses e guianenses tem todo o direito de espernear, em que pese os
diversos setores oficiais fossem contra a construção da ponte, fizeram a
parte que lhes cabia. O Amapá é um estado que se destaca de forma
triste pela mídia nacional com a divulgação de más notícias, corrupção,
roubo com desvios de recursos públicos e das operações de nome
fantástico da Polícia Federal. Os 34 milhões de euros investidos na
ponte binacional dariam para grandes investimentos na região da
fronteira, iria melhorar sensivelmente as condições de vida dos
moradores do município de Oiapoque. Porque o governo federal iria se
preocupar com uma ponte na fronteira? Nunca se preocupou com mais de 20
mil clandestinos que atravessaram a fronteira nas duas décadas.
A
ponte binacional é um tema de piada na mídia, tudo pela maneira como os
nossos dirigentes idealizam os projetos, carregados de desperdícios. O
Amapá já é famoso, mas no ano 2014 foi divulgado em todas as redes
sociais, um video sobre a BR 156 como a construção mais corrupta do
sistema rodoviário brasileiro. O que dizer diante deste fato? Como ficam
os nossos dirigentes que clamaram em prosa e verso a retomada da
cooperação transfronteiriça entre o Amapá e a Guiana Francesa.
Nesta
discussão sobre a ponte binacional, será preciso encarar a verdade, o
povo de Oiapoque já calejado do eterno sofrimento, tem que tirar algum
usufruto de uma ponte completamente surrealista. Em um rápido recorrido
pela Internet são diversas as reportagens sobre a ponte binacional, 90%
deste total, reflete a vergonha para os amapaenses e brasileiros que
moram na Guiana Francesa.
Como
pedir para um governo nacional que dê resposta para os problemas em
relação aos milhões investidos na construção da ponte nacional, se este
país assiste passivamente a maior cruzada de corrupção da história
brasileira.
Os
políticos profissionais só sabem fazer discursos e criar estratégias
para anular o “inimigo” eterno, aquele que está no poder, porém tudo
isso é transitório até a próxima eleição. A ponte e os milhões por nada
ainda vão render muita informação negativa para o Amapá e para o Brasil.
Fonte: jdia
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