Em 2013, os 24 deputados estaduais do estado gastaram 14 vezes mais com viagens oficiais do que os senadores da República
No ano de 2013, a AL (Assembleia Legislativa) do Amapá que conta com apenas 24 deputados, torrou cerca de 17,4
milhões de reais com as chamadas “diárias”, despesas com alimentação,
deslocamento urbano e hospedagem durante viagens oficiais.
Para se ter uma ideia da farra dos deputados estaduais amapaenses o valor é 14
vezes maior do que os gastos do Senado com a mesma rubrica: 1,25 milhão de
reais para seus 81 parlamentares e cerca de 9 mil servidores. O valor
abusivo chamou a atenção do promotor Afonso Guimarães, que há tempos
investiga desvios de recursos na Casa.
Deflagrada em 2012 pelo Ministério Público
e pela Polícia Civil, a Operação Eclésia identificou um rombo de 25
milhões de reais nas contas da Assembleia Legislativa. O escândalo levou
ao afastamento dos deputados estaduais Moisés Souza (PSC) e Edinho
Duarte (PP), presidente e primeiro-secretário da Casa na época. Mas a gastança da corrupção ainda parece aberta.
Segundo Guimarães “Esses 25 milhões foram gastos em serviços
inexistentes, como consultorias fictícias e aluguel de carros. Também
na compra de produtos nunca entregues, como milhões de litros de
combustível. Havia uma imensa quantidade de notas frias para justificar
esses pagamentos”.
Não é exagero. Em 2011, quando o promotor
começou a investigar o caso, a Assembleia Legislativa gastou pouco mais
de 4 milhões de reais em pagamento de diárias aos parlamentares. Em
apenas dois anos, a cifra mais do que quadruplicou, atingindo o
impressionante valor de 17.476.847,77 reais em 2013. Em decorrência das
suspeitas de corrupção, 21 dos 24 deputados do Amapá tiveram os seus
bens bloqueados pela Justiça.
“É surreal. Enquanto a Assembleia
Legislativa dispõe de um orçamento de 156 milhões de reais, a prefeitura
de Santana, a segunda cidade mais populosa do Amapá, com 108 mil
habitantes, tem 120 milhões para fazer tudo que está ao seu alcance,
cuidar das escolas, dos hospitais, da limpeza urbana”, comenta o senador
João Capiberibe, pai do governador Camilo Capiberibe, ambos do PSB. “É
uma situação muito delicada, porque o parlamento estipula seus próprios
gastos e o governador é obrigado a bancar as despesas.”
O senador reconhece que o escândalo atinge
todos os partidos representados na Assembleia Legislativa. “Chegamos a
denunciar um colega, o deputado Aguinaldo Baliero, ao comitê de ética do
PSB. Haverá uma sindicância para avaliar se houve quebra do decoro
parlamentar”, afirma. Capiberibe participa de uma campanha para reduzir o
orçamento do parlamento amapaense pela metade. O movimento “Reduza Já”,
iniciado por quarto partidos (PSB, PT, PSOL, PCdoB, além da Rede),
mobilizou a sociedade civil num abaixo-assinado e planeja um grande ato
na próxima sexta-feira 23.
Com o valor economizado, o grupo estima
que seria possível empenhar 30 milhões de reais na compra de
medicamentos e insumos para a saúde pública. Também seria possível
concluir as obras do Hospital Metropolitano, paralisadas há mais de 10
anos, por meio de um repasse de 15 milhões à prefeitura de Macapá.
Restariam ainda 33 milhões de reais para melhorar a pavimentação das
vias urbanas e investir em outras obras de infraestrutura.
De acordo com o diretor do Departamento de Comunicação da AL, Cléber Barbosa, o parlamentar estava em viagem e não poderia
atender ao pedido de entrevista. Barbosa informou, porém, que o
orçamento do Legislativo estadual permaneceu congelado nos exercícios de
2012 e 2013 na casa dos 153 milhões de reais. Para 2014, houve um corte
de 28 milhões. Pelo acordo firmado com o governo estadual, diz o
assessor, o valor deveria ser aplicado no Hospital Metropolitano.
Barbosa argumenta ainda ser injusto
comparar despesas de viagens da Assembleia Legislativa com as do Senado.
“Os deputados estaduais não têm cotas de passagens aéreas para usar ao
longo do mês nem outros benefícios que os senadores têm. Por isso, o
gasto é maior, e entra na contabilidade de cada gabinete”.
Capiberibe lembra, porém, que os deputados
do Amapá têm direito a verbas indenizatórias, para cobrir gastos com
passagens, hospedagens, aluguel de carros, entre outras despesas. “Eles
tinham direito a 100 mil reais por mês e, após as denúncias, foram
forçados a reduzir essas verbas para 50 mil e, depois, 32 mil mensais.
Para compensar essa perda, elevaram os gastos com diárias. Mas elas só
deveriam ser usadas no caso de viagens a serviço da Assembleia, e não do
mandato”, afirma. “Também desconheço esse acordo para injetar dinheiro
no Hospital Metropolitano, até porque ele é administrado pela prefeitura
da capital, e não pelo estado.”
Fonte: cartacapital